quarta-feira, 25 de março de 2020

Carga de energia do Brasil recua para níveis de fim de semana


A demanda por eletricidade, importante indicador da atividade econômica, iniciou a semana com forte baixa no Brasil, em meio a medidas de isolamento decretadas por governos contra o coronavírus que levaram ao fechamento temporário de diversos negócios, cortando a carga de energia a níveis geralmente vistos em sábados ou domingos.


A carga, uma soma do consumo de energia com as perdas na rede, somou 61,7 gigawatts médios na terça-feira (24), cerca de 2,55% abaixo da estimativa inicial do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para o dia. O volume ficou 15,9% abaixo do visto na terça-feira passada, antes que efeitos da pandemia sobre o consumo ficassem mais evidentes.

Com a entrada em vigor de uma quarentena decretada pelo governo de São Paulo, polo econômico do Brasil, a carga da terça-feira ainda ficou ligeiramente inferior à do último fim de semana anterior ao agravamento da crise do vírus, quando somou 67,7 gigawatts no sábado (22) e 61,9 gigawatts no domingo (21).

"Se você observa o comportamento da carga, nos fins de semana tem uma derrubada e quando chega na segunda-feira tem uma rampa muito alta (de retomada). Agora, você pega essa última semana e vê que a carga foi reduzindo, entrou no fim de semana reduzida e na segunda não subiu, não reagiu", disse à Reuters o presidente da unidade de comercialização da Companhia Paranaense de Energia (Copel), Franklin Kelly Miguel.

"Isso demonstra que o consumo está em níveis típicos de um final de semana", acrescentou ele.

A redução da atividade econômica com as medidas de isolamento, que têm sido adotadas em todo o mundo para reduzir a velocidade de propagação do coronavírus, tem gerado preocupação no presidente Jair Bolsonaro, que passou a defender uma retomada da "normalidade" e o isolamento apenas de pessoas com perfil de risco.

Governadores, no entanto, têm rebatido o presidente e sinalizado por ora a manutenção das quarentenas, que determinam o fechamento de diversas lojas, shoppings e outras atividades consideradas não essenciais.

O funcionamento de indústrias em geral não tem sido alvo de restrições, mas muitas anunciaram paralisação de atividades e dispensa temporária de funcionários devido à menor demanda ou por problemas com a cadeia de suprimento em meio à pandemia.

Por outro lado, muitas empresas colocaram funcionários para trabalhar de casa, o que aumenta o consumo de energia residencial.

"A carga comercial vai ter um impacto maior porque, de um modo geral, foi demandado pelos governos que fechassem, então não tem jeito. A indústria de certa forma tem redução um pouco menor, mas tem. Vai ter um aumento do consumo da classe residencial, mas não vai compensar", disse o CEO da Copel Energia.

O presidente da comercializadora de eletricidade Focus Energia, Alan Zelazo, estimou um mergulho da ordem de 10 gigawatts médios na demanda desde as medidas mais restritivas contra o vírus, mas afirmou que a queda ainda pode se aprofundar.

"Isso é praticamente uma Itapu", afirmou, em referência à produção da hidrelétrica binacional na fronteira com o Paraguai, a maior usina do mundo em geração de energia. "E na minha opinião a gente ainda não viu alguns setores fechando a porta, ainda não impactou totalmente. Por enquanto (as medidas de governos) fecharam o comércio e nem em todas cidades", apontou Zelazo.

Ele disse que já foi possível perceber recuo de cerca de 20% na demanda do setor de shoppings, que deverá cair ainda mais, para baixa de cerca de 70% devido a novos vetos à abertura dos centros comerciais em diversos estados e cidades.


"Acredito que os shoppings sejam os mais afetados... por outro lado, alguns setores não param. Para você ter uma ideia, temos clientes que são hospitais e supermercados e eles estão consumindo de 10% a 15% mais", acrescentou.

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