segunda-feira, 20 de abril de 2020

Médicos relatam preconceito por lidarem com Covid-19

imagem internet
Profissionais que se arriscam diariamente para salvar vidas, na luta contra o coronavírus, médicos pernambucanos vêm relatando que têm sofrido preconceito no local onde deveriam se sentir mais seguros: os condomínios onde moram.
Nas redes sociais, alguns publicaram que tiveram sua circulação restrita nos edifícios. O Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) recebeu uma série de relatos, por meio da ouvidoria, sobre situações deste tipo. Ontem, a entidade publicou nota em apoio aos profissionais e classificando a atitude discriminatória como inadmissível.

A pediatra Giullianna Lima, 39 anos, moradora da Torre, publicou em seu perfil no Instagram um texto relatando situações de constrangimento no prédio em que vive. “Sinto tremendo mal-estar pelos olhares de medo e desprezo, principalmente onde moro”, diz o texto. Giullianna foi confirmada com Covid-19. Ela é uma dos 966 profissionais de saúde do Estado infectados, segundo o boletim da Secretaria Estadual de Saúde do domingo.

A médica ficou isolada durante o tempo em que esteve doente e se curou. Depois, voltou ao trabalho. “Sou profissional de saúde e me contaminei provavelmente na assistência. Na fase inicial, por ser assintomática, tive contato com pessoas no ambiente hospitalar que trabalho. Posso ter contaminado outros onde moro e até meus familiares”, continua o texto de Giulliana.

A pediatra disse ao Diario que está assustada com o momento. “As pessoas deveriam se unir, não ficar se jogando um contra o outro, e tentando ver o que o outro está fazendo de errado para poder justificar o seu ato discriminatório”, lamentou. Ele explica que os atos de preconceito vêm, principalmente, de pessoas que não são da área de saúde. “Todo mundo está potencialmente contaminado. Se é para exigir máscara de um, é para exigir de todos”, lembrou.

Mas não apenas os profissionais com casos confirmados são alvo da discriminação e muitos sequer aceitam falar abertamente, temendo estigma. Em um edifício localizado no bairro do Parnamirim, por exemplo, moradores propuseram que os profissionais de saúde usassem apenas os elevadores de serviço. Além disso, as áreas comuns do prédio seriam abertas apenas aos demais moradores.

 “É inadmissível aceitar que parte da sociedade assuma tais posturas, discriminando médicos, profissionais de saúde e seus familiares em condomínios, espaços abertos de convívio coletivo, entre outras situações. Essas atitudes demonstram um total desrespeito aos profissionais de saúde, que estão se expondo diariamente em Hospitais, Upas (Unidades de Pronto Atendimento), PSFs (postos de saúde), Policlínicas e Maternidades, SVO (Serviço de Verificação de Óbito) e IML (Instituto de Medicina Legal)”, diz o texto do sindicato.

“Aplausos em janelas e demonstração de respeito em redes sociais são muito importantes, motivam, e devem ser estendidos ao dia a dia, apoiando - de fato - quem tanto está lutando pela vida de todos. É importante que todas as pessoas que nos aplaudem possam se solidarizar com nossa indignação e coibir em seus ambientes residenciais e de convívio social toda e qualquer atitude discriminatória”, continua a nota.

A oncologista Claudia Beatriz, presidente do Simepe, lamentou a situação. “A gente fica bastante indignado, decepcionado, com uma situação como essa. Isso só faz a crescer a desinformação acerca da pandemia. Toda a sociedade está exposta. O profissional de saúde está tratando os pacientes que ele não conhece como está tratando os parentes daqueles que moram com ele no mesmo condomínio”, disse.

Informações DP

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