domingo, 23 de julho de 2023

Governo incinerou 36 milhões de vacinas vencidas herdadas de Bolsonaro

Pelo menos 36 milhões de vacinas compradas pelo governo Bolsonaro foram herdadas pela gestão Lula já vencidas ou prestes a perder a validade, sem prazo suficiente para o uso. Como resultado, o Ministério da Saúde incinerou essas doses no primeiro semestre deste ano, numa média de 200 mil doses descartadas ao dia.


O levantamento, feito pela coluna com base em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, mostra que, de janeiro a junho, o ministério incinerou 36,6 milhões de doses de imunizantes. A cada 10 doses de vacina descartadas, nove venceram ainda em 2022 ou até março deste ano.


Do contingente total, 66% das vacinas são de Covid, com 24,3 milhões de doses. Em seguida, com 15%, a vacina tríplice, ou DTP (difteria, tétano e coqueluche), com 5,6 milhões de doses. A vacina contra febre amarela, com 3,3 milhões de doses incineradas, representou 9% do total.


Também foram descartadas vacinas contra raiva canina; BCG (tuberculose grave); hexavalente (difteria, tétano, coqueluche, poliomielite, hepatite B e Hib); catapora; tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e catapora); e cólera.


Todas essas doses destruídas foram compradas pelo governo de Jair Bolsonaro, que fazia ataques públicos à vacinação contra a Covid, na contramão de regras sanitárias básicas e internacionais. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, está preso por suspeita de ter fraudado cartões de vacinação contra a doença.


Na distribuição de vacinas, o Ministério da Saúde precisa entrar em contato com estados e municípios, que nem sempre têm estoques com grande capacidade. Outra dificuldade é o tamanho continental do Brasil e o custo para transportar esses insumos.


Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que conseguiu salvar outras 12,3 milhões de vacinas com ações emergenciais neste semestre, obtendo uma economia de R$ 251 milhões. A pasta ressaltou que retomou campanhas de vacinação, negociou doações humanitárias e criou um comitê permanente para monitorar os estoques.


“O Ministério da Saúde reitera o seu compromisso com o bem público e reforça que o esforço na utilização e distribuição dos insumos de saúde é um ato de respeito à população e responsabilidade com o povo brasileiro”, completou.


Queda histórica na cobertura vacinal

Nos últimos anos, a taxa de vacinação no país caiu a índices alarmantes. Até 2014, a cobertura vacinal passava de 90%. Em 2017, o Brasil ostentava a segunda maior cobertura vacinal infantil do mundo.


Já em 2021, com Bolsonaro trabalhando abertamente contra a confiança em vacinas, só 60% das crianças foram imunizadas contra hepatite B, tétano, difteria e coqueluche. No ano seguinte, o Brasil entrou para a lista dos 10 países com mais meninos e meninas com o cartão de vacina atrasado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).


No governo Bolsonaro, de 2019 a 2022, o Ministério da Saúde resistiu a lançar campanhas de vacinação. No fim de 2020, na pandemia, o então ministro general Eduardo Pazuello reclamou da cobrança por vacinas. “Para que essa ansiedade e essa angústia?”, disse no Palácio do Planalto, sem máscara, a exemplo de Bolsonaro e auxiliares.


O desdém à imunização era a tônica do ex-presidente. “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa [dizendo]: ‘Vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe“, disse Bolsonaro em 2021. No ano anterior, disse, em um discurso contra a vacina: “Se virar jacaré, é problema seu”.


Ministério tenta antecipar campanhas de multivacinação

O Ministério da Saúde escolheu a Região Norte para antecipar campanhas de multivacinação, com vistas a recuperar o atraso na imunização. Os horários de vacinação foram ampliados, e profissionais de saúde foram enviados a áreas de difícil acesso.


Para reverter o cenário dos últimos anos, a pasta aposta em outras duas estratégias. A primeira é melhorar a negociação com estados e municípios para melhorar a distribuição das vacinas, especialmente dos insumos perto do vencimento. A outra é a criação de um comitê que acompanha a compra e o armazenamento de insumos médicos. O grupo produzirá relatórios bimestrais e pode se reunir a qualquer tempo.


Segundo a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, o Brasil desperdiçou R$ 2,2 bilhões em insumos estratégicos, como vacinas, no governo Bolsonaro. 


Guilherme Amado do portal Metropoles.

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